sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Le temps qui passe (versus) le temps qui reste

 

O tempo. O tempo que passa é outro tema recorrente em meus textos e não pretendo deixá-lo de lado, muito pelo contrário.

 

E bastou dizer a primeira frase: “o tempo que passa” assim como escrevi na primeira linha, que me veio à mente a outra frase ... meio na sequência e automaticamente: “o tempo que resta” (o título de um filme francês que adoro). Então nomeei este texto para ligar os dois temas e em francês porque faz algum sentido.

É curioso. Toda vez que paro para pensar no tempo que já passou na minha vida, acabo pensando também no tempo que me resta de vida. Parece dramático, mas é só um jogo de complementaridade.

Pensei nisso recentemente quando vi a SonyMusic anunciando que o videoclipe Freedom!’90 do George Michael faz 30 anos.


Foi instantaneamente que meu pensamento voou com minha memória para 30 anos atrás. E exclamei - caramba faz tanto tempo assim?!

Sorri sozinho. Balancei a cabeça e viajei rememorando a importância deste clipe na minha vida.

Em 1990 eu vivia o auge da MTV. Naquele ano meus irmãos se casaram e eu passava a viver sozinho no quarto que antes eu dividia com mais três deles. Naquele ano aprendi a dizer meu quarto e naquele quarto eu gravei este clipe (entre outros) numa fita Vhs.

Eu estava aprendendo muitas coisas. Eu andava querendo decorar uns poemas. Eu estava conhecendo uns autores. Eu começava a citar frases dos outros. Dizer que conhecia um pouco de cultura, de filmes, de diretores, e um pouco de línguas estrangeiras. Mas este clipe era como um poema que eu já sabia de cor. Eu repetia muitas vezes.

Freedom! ’90, foi uma referência na minha vida. Ele teve o poder de uma catarse de liberdade, e um marco para entender minha sexualidade. No videoclipe dirigido por David Fincher, as super modelos Naomi Campbell, Linda Evangelista, Tatjana Patitz , Christy Turlington e Cindy Crawford, desfilavam (e destilavam) beleza e sensualidade. Eu sabia, eu concordava que elas eram lindas todas maravilhosas, mas finalmente entendi que isso (aquela atração que eu sentia) não era em nada sexual. Entendi isso porque no mesmo videoclipe apareciam modelos masculinos (sem tanto glamour como as mulheres) mas eram absurdamente atraentes para mim. Tesudos mesmo, tenho que dizer.

E com o áudio eu cantava Freedom (com um orgulho de entender partes da letra e saber que eu gritava por li-ber-da-de) para Rita, minha irmã mais nova, que tinha no quarto um pôster do George Michael, para onde eu olhava e brincando com ela ironizava dizendo que ele era feio, muito feio.

Sim, eu havia aprendido o que simplesmente repetia com os exemplos dos irmãos. Eu precisava dizer que era feio aquele homem que eu via másculo e lindo de jaqueta preta e óculos escuros nos filmes que elas assistiam. Ninguém me disse, mas eu entendi que os homens precisam mentir (no fundo eu pensava que eles, os irmãos, sabiam que estavam a dizer mentiras _ não é possível que achem estes homens feios _ pensava). Assim aprendi a mentir sobre o que achava de George Michael, Elvis Presley, Marlon Brando, Roberto Carlos e outros ídolos das irmãs.

 Com Freedom!’90 aconteceu de eu entender que não precisava mais mentir.


4 comentários:

  1. Parabéns pelo texto, Ed. Muito bom!!! Freedom 90, música e clipe, também foi um divisor de águas na minha vida.Escreveria muito sobre essa época, aliás já escrevi um pouco, mas só para mim, por enquanto... rsrsrs

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  2. Muito legal essas reflexões sobre as baladas que são a trilha sonora da vida da gente! Eu tenho várias delas.

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  3. Ed, querido, que alegria ler você e conhecer parte do que você pensa e da sua história <3
    Beijos,
    Luciana

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  4. Li agora pela manhã, a caminho do trabalho e por alguns segundos percebi que estava sorrindo enquanto lia. E que bom. Lindo de ler, amei.

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