Para nós mineiros, a pamonha é uma iguaria de milho que se tempera com sal.
Lembro que quando eu era criança, minha mãe preparava várias receitas de milho, pois de vez em quando compravam um saco de espigas de milho (desses grandes de 60Kg), porque a família era bem grande.
O que mais lembro é da farra. Imaginem uma casa com umas 15 pessoas num domingo comum. Muitas espigas para descascar, limpar e depois ralar, numa cozinha não muito grande e mãos de todas as idades para ajudar nas tarefas para as diversas guloseimas ... pamonha, cural, milho cozido ... Uma verdadeira festa.
Acho que no meio dessa bagunça toda, por uma ou duas vezes alguém inventou de esconder uma pimenta malagueta daquelas pequenas, dentro de uma das pamonhas. Assim a criança mais "sortuda" daria uma bela mordida fatal e apimentada.
Nós, molecada, gritávamos ansiosos que ninguém queria ser esse tal "sortudo" a queimar a boca com pimenta malagueta. Era uma brincadeira muito divertida _ e secretamente eu nutria o desejo que fosse eu a encontrar a tal pimenta. Descobri-la era ter um toque a mais. Na minha cabeça ia ganhar um destaque e atenção com as risadas de todos.
Agora imagina a festa, a quantidade de pessoas na casa, aquela bagunça na cozinha e, claro, um toque a mais de pimenta ... as risadas e a descontração davam todo o sabor.
Atualmente tem acontecido umas coisas estranhas comigo.
Como por exemplo estar fazendo uma coisa e de repente passar a fazer outra _ estranho mesmo com as rotinas diárias. Outro dia, antes de ter terminado de lavar louça, olhei os panos de chão que estavam no tanque e comecei a lavar na hora. Parece uma simples bobagem, mas não era assim que eu funcionava. Reparei isso ontem. Eu estava passando pela sala de casa, olhei para uma cadeira e imaginei uma foto daquela cadeira virada para a porta da varanda. Então, esqueci o que estava fazendo e na mesmo hora já peguei o celular e fotografei.
Hoje de manhã olhei a mesma cena e lembrei da foto. Parei e fiz outras fotos.
Sentei na cama com uma xícara de café na mão e passei algum tempo brincando de editar as fotografias que pareciam querer dizer alguma coisa.
Cortei, ajustei, apliquei filtro e gostei particularmente daquela que resolvi postar linkando com a música Esquadros da Adriana Calcanhoto:
"Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado.
Remoto controle".
Depois, foquei nessa parte:
"Eu acordei. Não tem ninguém ao lado".
Mas antes que isso me deixasse triste _ lembrei de ficar contente _ Que tinha gostado bastante da foto, de brincar com as imagens, da paisagem na janela, e de refletir.
Não sei, porém suspeito que se tratava de descobrir aqui uma beleza, e talvez receber ou ofertar um convite para sentar e apreciar a beleza do cotidiano. Esperar um sabor a mais _ como o da pimenta na pamonha salgada.

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