Natal

 

Não sou amante dos rituais de fim de ano. Sério mesmo.

Mas se aprendi alguma coisa na vida, foi que não adianta brigar com o Rei Cronos (Krónos _ na mitologia grega _ deus do tempo e rei dos titãs. É o mais jovem dos titãs, filho de Urano, o céu estrelado, e Gaia, a terra). Ele é um rei forte. Fortalecido.

Fortalecido principalmente pelo pensamento cartesiano ocidental cujo imperativo parece ser contar marcar e datar como uma forma de manter-se vivo.

Sinceramente acho que eu gostaria de contar menos datas, eu já tinha aprendido um pouco e andava deixando minha vida me levar, depois com o advento da pandemia descobri junto com todo mundo que estou (estamos) sujeito a surpresas inesperadas capazes de mudar totalmente uma vida. Daí chega o fim de ano e começam novas programações e planos.

Sou contraditório. Programei e participei de mais de cinquenta e cinco festas confraternizações e encontros de fim de ano a ponto de trazer (e fazer) alguns memoráveis. Memoráveis.

E eu sei bem, muito bem, que no fim das contas (e no fim do ano) fica mais clara e evidente essa batalha perdida _ falo com conhecimento de causa. Falo com as luvas da briga na mão que já venci algumas, como aquela em que me convenci a não ter televisão em casa. Eu que já briguei com aplicativos e já coloquei o celular de castigo algumas vezes.

E se espero que tudo vá melhorar, com a certeza de que não será a partir do dia primeiro de janeiro, é porque tenho esperança e esse sim é um sentimento não-vinculado às datas. Assim é com o inconsciente _  atemporal e soberano. O que acontece lá nesse reino, não é atingido pelo cronológico por isso sonhamos com datas bagunçadas. E também por isso nos sonhos os eventos parecem sem lógica.

Prático e pragmático _ para o meu consciente, para o cronos e o para o Descartes (rs), parece impossível viver sem datar, sem contar, sem contabilizar, sem cronometrar, mas consegui elaborar  forma (fórmula) para aceitar que vai ficar tudo bem, planejando ou não.

Só com isso em mente é que consigo dizer: Feliz Natal a todos.