Não quero ficar nessa sensação de desautorizado para sempre ...
Quando escrevi aqui no blog: "Estou há um tempo sem escrever. Sem me sentir autorizado a falar de mim, porque uma sensação de impotência me invade". Tinha um tom de indignação frente á nossa dificuldade de conviver com tantas mortes diárias.
Daí alguém me falou em empatia _uma palavra da moda. Não gosto.
Não gosto de palavras da moda. Aliás, não gosto nem de moda, e a palavra Fashion então, essa me dá coceira.
Também não me autorizo a escrever crítica, nem de filme, nem de série, nem de teatro ou livro.
De fato meu negócio não é escrever crítica. Sou, como posso dizer, um apreciador: só sei beber o vinho. Não vou escrever sobre os taninos altos ou as notas amadeiradas.
Eu até gosto de dar numa roda de amigos, dicas de filmes, de séries ... essas coisas.
O que tenho tentado é não emprestar dinheiro para quem não me pediu. Sabe como é?
E ficar indicando qualquer coisa, passou a me parecer pernóstico ... Achar que sei demais qualquer coisa a ponto de dizer "Isso é bom!" ou "Você tem que ver isso!". Acho chato.
Quero dizer livremente o que gostei, o que amei, ou encher qualquer coisa de emoji de coração, tanto faz.
Assim, quero falar sobre uma série que estou vendo na Netflix.
Ride Upon the Storm, que em português ganhou o nome estranho de "Nos caminhos do Senhor". Estou amando. Uma série dinamarquesa, que fala sobre religião de uma forma que me agrada muito.
Outra noite eu repeti uma mesma sequência cinco vezes. Durava aproximadamente três minutos e o personagem falava que havia se encontrado no budismo, numa viagem ao Nepal, a partir da qual percebeu o peso da sua raiva. Aquilo me provocou uma vontade de gritar ...
Daí ele grita no final da cena ... exatamente no momento em que rolaram as minhas lágrimas.
Sim, eu sei, voltei a falar de mim _ a quem quero enganar? Não quero.
É que não sei, porém suspeito que também eu me guiei e, às vezes, me guio pelo peso da raiva. Raiva do passado, do Bolsonaro e sua política atual. E até daquelas palavras _ as da moda, sabe?
No fundo eu também quero me livrar de um peso. Então o dia amanhece.
Escolho um CD não-aleatório. Pego Herbert Vianna em Santorini Blues. Uma música das favoritas: A palavra certa
na outra mão as flores, como se flores bastassem,
Eu espero e espero
Não funcionam luzes, telefones, nada se resolve
trens parados, carros enguiçados
aviões no pátio esperam e esperam
D´onde caem as palavras
a palavra certa
Que faça o mundo andar
Por um momento entendo o motivo e a razão de verter lágrimas, e buscando palavras é quando decido escrever.

👏👏👏❤️
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