quinta-feira, 6 de maio de 2021

O fotógrafo

 

Mostrar

 

Eu procurava uma fotografia entre os meus arquivos guardados. 

Precisava de uma foto em boa resolução para a parede da sala.

Me peguei pensando no tamanho das coisas, medidas em pixels, centímetros, Kbytes, e como medir coisas importantes. É que além de uma grande ampliação fotográfica, estou pensando em espelhos, pensando em dançar na sala. Coisas que passaram a ter outra importância e uma foto gigante é a coisa mais ousada que podia caber em qualquer das minhas moradas anteriores. 

Escarafunchando encontrei estas fotos que talvez formem a sequência mais bonita que eu tenha produzido na vida. Pouca gente viu (e eu queria mostrar).

Como num estalo, um click e não só mostrar, resolvo escrever sobre elas.

A paixão é assim. Faz um click.

  

Revelar

 

Eu já brinquei de ser fotógrafo.

Fiz curso de fotografia P&b (até aprendi a revelar), andei com fotógrafos e amantes de fotografia em geral. Até que certa vez, lá pelos 28 anos apresentei algumas ampliações almejando um certo curso relacionado à fotografia artística com vagas limitadas. No feedback a instrutora mandou um “olha suas fotos são legais, porém elas não contam uma história. As fotografias de paisagem não contam uma história. 

Uma produção artística revela uma história … voce entende?” 

Entendi. - Sim entendi. Mas depois desisti de fotos artísticas.

 

Mostrar revelar exibir

 

Hoje encontrei várias histórias e eu viajo nelas, enquanto vou desordenando suas sequências deixo minha imaginação flutuar.

Toda história que imagino fala de sedução. Romantizo lindamente qualquer ordem nas fotos:



  • Ela está sozinha, posando de guarda-chuva para ninguém, está reflexiva nesse lugar nublado _ Ele a observa de longe. Quando se aproxima percebe a beleza do momento eternizado. E depois do click: Toma um café comigo?



  • Eles já estavam casados há alguns anos, quando a crise chegou. Agora absortos no momento em que desacreditam que o amor seja para sempre. Ele ainda pede autorização para tirar uma foto. Gostou do resultado e sorriu para ela: -Voltamos?

 



Exibir


Nas fotos um casal de amigos, pessoas a quem eu já disse que amo e que me fizeram sentir de perto qualquer coisa daquela canção:

 “The greatest thing you'll ever learn

Is just to love and be loved in return”

 (Nature Boy)

 

Agora para juntar amor e sedução. Penso nas pessoas que seduzi. Nas vezes que meu jogo deu certo. 

Dar certo é quando recebo alguma admiração de volta. Assumo que é o meu caso buscar um click e depois um tesãozinho qualquer que aqueça a alma. Reciprocidade.

Essa coisa … me emociona. Fecho os olhos e imagino aquele momento da foto (2016) como um passado historicamente remoto impossível de reviver. 


(in    Parc du Domaine-des-Restraités - Quebec City - 2016)


7 comentários:

  1. Como disse o Antonio Candido, o homem não vive sem ficção, nem que seja um bilhete de loteria

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  2. ”No fundo a Fotografia é subversiva, não quando aterroriza, perturba ou mesmo estigmatiza, mas quando é pensativa.” Roland Barthes

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  3. Quando você me disse que tinha abandonado a fotografia, fiquei bem surpreso.
    Talvez você a possa ter abandonado. Mas ela não abandonou você.

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  4. Deu vontade de procurar mais histórias nas minhas fotos!!!

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