A árvore

Três coisas que cada pessoa devia fazer durante a vida: ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore (frase atribuída a José Martí um filosofo e poeta cubano do século passado).

Eu não tenho filhos e não os terei. Em 2019 "escrevi" um fanzine mas isso não conta, porém há nove anos eu plantei uma árvore. 

Não consigo defender meu quinhão dizendo que daquelas três coisas, eu, pelo menos plantei a árvore, sem parecer escapista ou superficial como a criança que se justifica inventando desculpas para a tarefa que não foi feita.

Mas acho mesmo, de verdade, que a frase tem mais a ver com o ato de produção do que com a objetificação de "filho/livro/árvore". Penso que o que autor quis dizer é: 

- Você tem que produzir alguma coisa durante sua vida!

Particularmente penso que a felicidade está na criação/produção de qualquer coisa.

O drama é que eu abandonei minha árvore _ Estava no meu segundo casamento quando plantei essa Pitangueira. E se do primeiro não consegui salvar uma plantinha sequer, no segundo tivemos várias plantas juntos à medida que construímos uma amizade sólida e duradoura, embora o casamento tenha terminado após 8 anos.

Interessante que eu fiz o registro do nascimento: Está lá ... dia 02/01/2012 ... lá não - aqui mesmo neste blog - escrevi “Uma boa coisa para se fazer hoje”.

https://poremsuspeito.blogspot.com/2012/01/uma-boa-coisa-para-se-fazer-hoje.html

Por tantos caminhos posso ir na re-invenção do meu drama sobre esse assunto. Então eu viajo.

Caminhos imprevisíveis: Os acontecimentos em nossa vida, os grandes eventos acontecem de acordo com as suas pré-condições, cujos arranjos não são em nada previsíveis. Como o evento de uma pandemia mundial me colocar no mesmo prédio onde vivia a minha pitangueira desde que a abandonei em 2015. E me questiono sobre em que lugar imprevisto eu estaria, caso tivesse tido um filho, ou até mesmo se um livro existisse.

Como falei: se a felicidade esta na criação ... e viver é correr atrás da felicidade ...... então viver é cuidar da sua própria criação.

O cuidar: Ah, minha família age como se eu tivesse desejado muito ter filhos. Eles observam minha paciência com a crianças e o quanto me diverti com meus sobrinhos todos. Mas na verdade eu pensava que o desejo de ter filhos sempre pertenceu às mulheres. (Pensamento machista pra caralho, eu sei). Não tô falando da concepção em si. Tô falando de desejo ... como se na minha cabeça os homens não desejassem nunca ter filhos, porque é um desejo tipicamente feminino. Claro, que não penso exatamente assim. Mas prometo que em breve vou desenvolver melhor esse tema.

Já escolhi. "A vida é feita de escolhas" já diria um filósofo amigo meu. Falemos da árvore.

Eu não escolhi que tipo de arvore queria na minha vida ... aconteceu. Sobre elas, lembro que aprendi que as caducifólias são as que perdem folhas no inverno e lembro também que havia qualquer coisa de diferenciação quanto àquelas que dão flores e frutos _ se protegem mais que as outras (prolongam a espécie). Eu não estudei Botânica, meu lance era outro, mas 

Olhar para a planta agora tentando entendê-la percebi que a terra estava seca, com formigas, com folhas cortadas e galhos retorcidos. 

Há uma marca de quebra ... parece um miolo seco, minha pitangueira passou por poucas e boas enquanto eu não estava por perto. 

Observo agora seu tronco com uma casca velha e quebradiça, sinal de que ela estaria maior hoje, sinal que teve um trauma alí.  

Ao que tentei remediar com terra nova, mudança de vaso, brilha-folha, aveia-de-osso na terra, além de um pouco de canela para espantar as formigas. Ela reagiu bem _ vejo sinais.

Não sei, porém suspeito, que viver (além de cuidar) é correr atrás. Fazer e ao mesmo tempo corrigir o que já tenha sido feito.