quinta-feira, 25 de março de 2021

Será saudável?

 

        Tenho pensado no que me é saudável fazer ...

        Tenho tentado expandir a definição de saudável para entendê-la em todos os níveis. 

        Me disseram que é saudável comer mais frutas e verduras. Tomar mais água. Fazer exercício.

        O que é saudável na minha casa, espaço delimitado pelos cômodos do apartamento, e na minha casa, espaço delimitado pela minha pele, na conjunção dos meus órgãos todos _ inclusive minha mente (e mente é um órgão?). 

        Perguntas demais, dirão. - Fica quieto!

        Estou há um tempo sem escrever. Sem me sentir autorizado a falar de mim para o blog. Como se no fundo eu concordasse que nesse momento só é possível falar do desespero, da tristeza, do desamparo que a situação atual, que o desgoverno atual nos impõe _ Ou ficar em silêncio. - Fica quieto!

        Uma sensação de impotência me invade e me desautoriza a falar dos meus sentimentos. Aliás, para quem? 

        Talvez seja melhor ficar quieto! Ficar em casa E fazer silêncio.

        Por esses dias tenho escutado meus CD´s. Primeiro decidi tirá-los da caixa onde dormiam desde a mudança. Depois colocá-los numa estante e mirá-los (por admirá-los) pensando ... para que servem? 

        Será saudável escutar CD´s? Deixar um pouco da streaming virtualidade do Spotify e pegar esse objeto que daqui a pouco será lembrado como peça do passado, carregados de sons do passado? Será saudável?  

        Nestas últimas semanas: uni-duni-tê _ faço escolhas aleatórias para ouvir durante o dia.

        Hoje saiu esse aqui:


        É uma Trilha Sonora. Um CD importado (nossa! eu costumava comprar alguns CD´s de trilhas sonoras importados. As vezes não achava a trilha no Brasil, as vezes porque eu queria escutar logo, pois a versão brasileira demorava a chegar nas lojas).

        Então...

        Eu não deveria ter me livrado logo deles e de suas lembranças que me fazem chorar?

        Sim, foi o que aconteceu.


        Tenta escutar Sinead O´Connor em The Thief of your heart

                            -Eu choro logo na primeira sequência do piano.

        Tenta escutar a voz do Bono: "In the name of the father ...

                            In the name of justice in the name of fun
                            In the name of the father in the name of the son

                            call to me ...
                            No-one is listening
                            I´m waiting to hear from you, love

        Lembro que chorei nesse filme. E agora evocar tamanha carga de emoção acumulada pelos anos de poeira da estante da minha vida?

        E mais:

        Será saudável desejar qualquer coisa fora desse meu espaço limitado?

        Será saudável permanecer assim como sou? 

        Desejar sair, desejar voar. Ter os desejos que tenho?

        e chorar?


7 comentários:

  1. A citação Mens sana in corpore sano é atribuída ao poeta romano Juvenal que em sua essência nos remete ao fato de que uma mente plena mantém todo o corpo na mesma toada.
    O que na prática sabemos que não é bem assim...que a mente saudável pode contribuir é fato, mas tornar o corpore sano 100% já são outros 500...
    Uma amiga sempre enfatiza que aquilo que é bom pra mim pode não servir pra ela. Recentemente entrei na vibe do Miracle Morning ao pular da cama às 5hs da manhã e confesso que estou curtindo. Já minha amiga diz que perdi o juízo pois este é o horário que ela vai dormir.

    Como diria Paracelso: “A diferença entre o remédio e o veneno é a dose”

    “Ficar em casa e fazer silêncio” – Meu voto é sim. Isso é bom pra mim, a meditação me ajudou muito a cultivar meus pensamentos e também a fazer a autoanálise. Claro que algumas vezes o silêncio tem que ser quebrado e o ouvido do amigo acabada virando confessionário.

    “Será saudável escutar CD´s?” – Essa pergunta me lembrou de outra: “Do Androids Dream of Electric Sheep?”
    Isso porque estes cd´s (seja, Pato Fu, Em nome do Pai ou...Blade Runner) nos trazem aquela “coceirinha” nostálgica: olhar pro CD´s, ler uma possível dedicatória no encarte, sentir o cheiro (até hoje lembro do cheiro que só o Adore do Smashing Pumpkins tinha...). Na minha opinião os LP´s possuiam esse poder em dobro (Não Edmundo...não é pq o LP tinha lado A e lado B) tamanha riqueza dos encartes com suas fotos e vamos combinar...eu ficava hipnotizado ao ver o giro da label....rsrs. O LP “vermelho” do Língua de Trapo teve esse poder sobre mim.
    A parte não saudável do CD é de não oferecer meios de fazer dedicatória via WhatsApp utilizando o Spotify e também o fato de não ser saudável na prática ao juntar pó e demandar espaço...rs

    “Eu não deveria ter me livrado logo deles e de suas lembranças que me fazem chorar?” – Vou te falar...eu já fiz isso com TODOS meus cd´s e não resolveu. Ainda carrego minhas lembranças que me fazem chorar. Estas ainda me visitam mesmo através do Spotify.

    Sejamos saudáveis dentro das nossas Mens sana na eterna busca pela panaceia. Mesmo que pra isso sejamos o Bird para sair, desejar e voar. Ter As Asas do Desejo para desejar e chorar.

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  2. Um elefante entra na sala:
    Características do poder disciplinar e parte do processo civilizatório ocidental segundo Foucault:
    1. apropriação total do corpo (cristaliza a potência dos corpos)
    2. controle contínuo do corpo para que a disciplina funcione sozinha; dominação impessoal.


    Para a companhia ao elefante, chamo uma girafa que declama trechos de "Micropolítica, cartografias do desejo", do Guattari:
    "[...] eu proporia denominar desejo a todas as formas de vontade de viver, de vontade de criar, de vontade de amar, de vontade de inventar uma outra sociedade, outra percepção do mundo, outros sistemas de valores. Para a modelização dominante - aquilo que eu chamo de "subjetividade capitalística" - essa concepção do desejo é totalmente utópica e anárquica. Para esse modo de pensamento dominante, tudo bem reconhecer que "a vida é muito difícil, que há uma série de contradições e de dificuldades", mas seu axioma de base é que o desejo só poderia estar radicalmente cortado da realidade e que haveria sempre uma escolha inevitável, entre um principio de prazer, um princípio de desejo, de um lado, e de outro, um princípio de realidade, um princípio de eficiência no real. A questão consiste em saber se não há uma outra maneira de ver e praticar as coisas, se não há meios de fabricar outras realidades, outros referenciais, que não tenham essa posição castradora em relação ao desejo, a qual lhe atribui toda uma aura de vergonha, toda essa espécie de clima de culpabilização que faz com que o desejo só possa se insinuar, se infiltrar secretamente, sempre vivido na clandestinidade, na impotência e na repressão" [...] "Do meu ponto de vista não dá para se falar em desejo individual. É a produção de subjetividade capitalística que tende a individualizar o desejo, e quando é vitoriosa nessa operação, não há mais acúmulo processual possível. Instaura-se um fenômeno de serialização, de identificação, que se presta a toda espécie de manipulação pelos equipamentos capitalísticos".

    Ou seja, desejar um desejo não demandado (fugindo dos algoritmos do Spotify, por exemplo) é saudável.
    Não se deixar embrutecer é saudável ;)

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  3. Também chorei muito. Ficar preso junto ao pai. Ir desconstruindo e reconstruindo a imagem dele. O perdão e o reencontro. O que acontece no filme perpassou a minha alma. A voz de Bono parecia rasgar a tela. Tb era um dos raros importados q tenho. A capa do importado tb é bem mais bonita do q o nacional mas vendi a memória e a lembrança. Guardo só o arquivo q escutei este ano.

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  4. Cds peças do passado relegadas a terceiro plano. Depois deles o MP3 e agora o streaming.... mas é bom guardar. E pensar que me desfiz de 30 anos de vinis (quase todos). Se arrependimento matasse...

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  5. Tenho guardando aqui em casa quase 200 LPs. E tenho um Toca Discos. Mas, falta um dos menores componentes desse conjunto para tocar as músicas: a minúscula agulha.

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