sábado, 26 de janeiro de 2013

O Som ao Redor

Fenomenologia

 Para começar eu diria que o filme “O som ao redor” me provoca (e me convoca).
Assistir ao filme foi para mim uma experiência, e é bom esclarecer que o que escrevo agora está baseado amplamente no que eu senti.

A história é como um simples relato do ambiente (redor) que acompanha a chegada da segurança para determinada rua do Recife. Fiquei com a impressão de que os personagens, limitados a uma vida segregada e isolada, parecem um pouco tristes. Assim, o filme parece dizer que buscamos segurança, mas no fundo, vivemos confinados e tristes, como dizia Freud, o homem moderno trocou um quinhão da sua possibilidade de felicidade por um quinhão de possibilidade de segurança.

Quanto à experiência de que falei acima, eu já havia sentido antes no filme Kill Bill, do Tarantino. Na cena em que a noiva é enterrada viva. A tela toda negra e o som abafado da terra sendo jogada em cima do caixão ... não vemos nada ... só ouvimos o som. Achei que era a maneira perfeita de “dizer” aquilo. Era a forma ideal para passar a sensação que o personagem estava vivendo. Sei que meu coração disparou naquele momento. Por isso que digo que me convoca, por trazer à tona uma “emoção” qualquer.

Penso que em termos de estímulo, sou mais “convocado” pelo som, do que pela imagem visual, mesmo sabendo que sou uma pessoa bastante visual. Em minha opinião, o filme explora essa questão apresentando várias situações onde o som aparece antes (como o do cachorro latindo) ou o emissor do som/barulho não aparece na cena. Para mim, é como se, neste filme o som também se tornasse um personagem, e a sensação que descrevi acima aconteceu mais de uma vez durante o filme.

Outra coisa que me chama atenção (e aqui reconheço um pouco de viagem minha), mas penso que o filme fala também sobre o passado, para isso serviram aquelas fotografias antigas “a la Gilberto Freire” no prologo do filme. Algumas cenas remeterem a minha experiência de visitar a casa onde morei na infância, mais ou menos como acontece no filme. A Sofia do filme diz que sabia até desenhar a casa de memória (eu também disse isso antes de entrar na minha casa do passado).

Para mim, o passado é tratado no filme, como “passado histórico”, ou seja, ele não é só uma referência imagética (fotos/cenário), mas aparece como história que se acumula.
Só por provocar esta reflexão pessoal, já digo que adorei o filme, e passo a pensar no diretor como “um historiador, cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem”:

A destruição do passado, ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que viveu. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no fim do segundo milênio.
(HOBSBAWM, Eric J., 1917. Era dos extremos)

O final do filme me pegou de surpresa.
Mas me pegou tão de surpresa, que o barulho das bombinhas fez meu coração disparar e fiquei sentado na cadeira do cinema esperando uns minutos sem poder me levantar.

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