A
história é como um simples relato do ambiente (redor) que acompanha a chegada
da segurança para determinada rua do Recife. Fiquei com a impressão de que os personagens, limitados a uma
vida segregada e isolada, parecem um pouco tristes. Assim, o filme parece dizer
que buscamos segurança, mas no fundo, vivemos confinados e tristes, como dizia Freud, o homem
moderno trocou um quinhão da sua possibilidade de felicidade por um quinhão de
possibilidade de segurança.
Quanto
à experiência de que falei acima, eu já havia sentido antes no filme Kill Bill,
do Tarantino. Na cena em que a noiva é enterrada viva. A tela toda negra e o
som abafado da terra sendo jogada em cima do caixão ... não vemos nada ... só
ouvimos o som. Achei que era a maneira perfeita de “dizer” aquilo. Era a forma
ideal para passar a sensação que o personagem estava vivendo. Sei que meu coração
disparou naquele momento. Por isso que digo que me convoca, por trazer à tona
uma “emoção” qualquer.
Penso
que em termos de estímulo, sou mais “convocado” pelo som, do que pela imagem visual,
mesmo sabendo que sou uma pessoa bastante visual. Em minha opinião, o filme
explora essa questão apresentando várias situações onde o som aparece antes
(como o do cachorro latindo) ou o emissor do som/barulho não aparece na cena.
Para mim, é como se, neste filme o som também se tornasse um personagem, e a
sensação que descrevi acima aconteceu mais de uma vez durante o filme.
Outra
coisa que me chama atenção (e aqui reconheço um pouco de viagem minha), mas
penso que o filme fala também sobre o passado, para isso serviram aquelas fotografias antigas “a
la Gilberto Freire” no prologo do filme. Algumas cenas remeterem a minha
experiência de visitar a casa onde morei na infância, mais ou menos como
acontece no filme. A Sofia do filme diz que sabia até desenhar a casa de memória
(eu também disse isso antes de entrar na minha casa do passado).
Para
mim, o passado é tratado no filme, como “passado histórico”, ou seja, ele não é
só uma referência imagética (fotos/cenário), mas aparece como história que se
acumula.
Só
por provocar esta reflexão pessoal, já digo que adorei o filme, e passo a
pensar no diretor como “um historiador, cujo ofício é lembrar o que os outros
esquecem”:
A
destruição do passado, ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa
experiência pessoal à das gerações passadas é um dos fenômenos mais
característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje
crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o
passado público da época em que viveu. Por isso os historiadores, cujo ofício é
lembrar o que outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no fim do
segundo milênio.
(HOBSBAWM, Eric J.,
1917. Era dos extremos)
O
final do filme me pegou de surpresa.
Mas
me pegou tão de surpresa, que o barulho das bombinhas fez meu coração disparar
e fiquei sentado na cadeira do cinema esperando uns minutos sem poder me
levantar.
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