terça-feira, 24 de maio de 2011

Congresso

Participei do 3º Congresso Internacional de Jornalismo,
realizado pelo SescSP e Revista Cult de 17 a 20 de maio de 2011.

Não trabalho na área de jornalismo e procuro justificar minha participação num evento desta natureza, menos como um interesse profissional e mais como um interesse de consumidor de eventos culturais.
“- O congresso é multicultural” e “- creio que é muito mais que jornalismo”
disse Pedro Juan Gutiérrez na primeira mesa do dia 18/05 _ O jogo na escrita: o desconhecido, o inexplicável, a escuridão. Onde o escritor e jornalista cubano iniciou sua palestra, com a seguinte leitura:
Hace muchos años, en un lugar lejano, em 1963, en la ciudad de Matanza Cuba,
un adolescente com 13 años, se subiu a un kayak, en el río San Juan en y comenzó a remar todas las tardes …”

Em seguida apresentou um poema visual (projetado no telão), que produziu recentemente a partir de colagens.
Poema “feito como divertimento e sem pretensão alguma”. Advertiu.
E “-com o mesmo espírito como remava o caiaque muitos anos atrás”.
(e descubro que ele _ Pedro estava falando de si)
Enquanto lia, ele parecia buscar e capturar o encantamento de cada uma das palavras lidas, e trazia para a cena, o relato de sua vida. Pedro Juan Gutiérrez contou, na sequência, sua historia de adolescente que amava ao mesmo tempo uma linda prostituta e sua vizinha de peitos fartos. E deu prosseguimento a sua palestra.
Porém, algo de fato havia capturado minha atenção (e naquele momento nem sabia o que era).

- Bela maneira de começar o dia. Pensei.
E todo o conjunto (a leitura em espanhol, imagens projetadas, o significado profundo das palavras) me pareceu dizer: - preste atenção, que vou te contar uma história. E ouvi assim: “era uma vez um rapaz que remava ...”.

Não preciso comentar a palestra inteira porque já está disponível no site do SescSP ;
O que me interessa é que
Naquela noite, ao sair do congresso, segui direto para o show de Zé Renato e Renato Braz no SESC Pinheiros.
Visto que não sei fazer a apresentação apropriada dos artistas (lembrem-se que sou simplesmente um consumidor), sei ao menos que não quero chamar ou classificar o estilo de música que fazem como regionalista.
Sei também que não são sucessos populares, nem sucesso de mídia.
Posso dizer sim que são fortes expoentes da cultura brasileira, o que me parece comprovado pelo fato de ter no show, um convidado tão ilustre quanto Dori Caymmi, que por si só, traz a responsabilidade no sobrenome.
Durante o show, enquanto cantavam Capoeira do Arnaldo (de Paulo Vanzolini)
Fui capturado pelos seguintes versos:
“Quando vim da minha terra
Passei na enchente nadando
Passei frio passei fome
Passei dez dias chorando
Por saber que de tua vida
Pra sempre estava passando”

Este novo conjunto (o som, as vozes, os instrumentos e o significado profundo das palavras), chamou minha atenção e então lembrei do poema visual que vi/ouvi pela manhã.
E percebi o que de fato me havia capturado em ambos os casos (poema visual+leitura  e  música+versos), era a possibilidade de envolver meus sentidos de forma não esperada, num jogo de surpresa e admiração. Pude assim, perceber a beleza de um momento de descoberta.
O momento de elaborar é o momento em que “cai a ficha”. Quando se consegue fazer a relação entre as coisas, e ligar dois pontos ou mais. Quando algo é explicado para si mesmo.
Durante o show, a memória do poema me vinha já como uma referência.
E assim percebi minha identificação com aquele rapaz que remava.

Vamo-nos embora ê ê
Vamo-nos embora, camará
Presse mundo afora, ê ê
Presse mundo afora, camará
(Refrão da música Capoeira do Arnaldo)

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